segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Meu rastro de criatividade.

Resolvi, no post de hoje, compartilhar com vocês, amigos leitores, um conto de minha autoria. Esse conto foi escrito no início desse ano de 2011, por um motivo bem objetivo: quis me inscrever no 3º Concurso de Contos realizado pelas Livrarias Curitiba. Gosto muito desse gênero literário, porém nunca havia me arriscado a escrever um. Meu conto tem seu fundo de verdade misturado com uma boa dose de ficção. A personagem principal, Dorotéia, foi inspirada em uma pessoa que eu conheço e que vive aprontando as suas por esse mundo afora. Sem mais delongas, deixo o conto "Não perca seu tempo, nem gaste seu dinheiro" para vocês darem a sua opinião. Boa leitura!


Não perca seu tempo, nem gaste seu dinheiro.

- Pode devolver.
-Mas, minha senhora, são flores tão bonitas. Tem certeza que a senhora quer devolver mais esse buquê à floricultura?
- Ah! Quer saber? Deixe aí. Já não me importo mais.
E essa foi a curta conversa entre Dorotéia e o entregador de flores. Eles eram velhos conhecidos. Quero dizer, toda semana ele vinha à sua casa entregar um buquê de rosas e ela sempre recusava. Ele não entendia o porquê e nem estava interessado em saber. Em seu interior, tinha um pouco de medo dela, na verdade.
Apesar de ter a opção de levar uma vida tranquila, já que possuía sua independência financeira e não tinha filhos, ela optou por um caminho diferente, com relações conturbadas, vivendo uma trama que nem Freud conseguiria explicar.
Dois homens fazem parte da vida de Dorotéia. Muitos, porém, já passaram. Conviver com Dodô – apelido que um de seus amores lhe deu - era complicado, pois parecia impossível saber o que se passava em sua cabeça, já que seus atos não coincidiam com o que ela falava. Quando menos se esperava, surpresas aconteciam.
Com relação aos homens, a novela era sempre a mesma: um encontro às escuras, uma simpatia imediata, ele vai a casa dela, tomam alguns drinques, saem algumas noites e, na outra semana, estão morando juntos!
Sim, isso mesmo. A aranha sempre arrasta a presa para a sua teia antes de matá-la. Dorotéia não executava as suas “presas”, entretanto conseguia mudar a vida delas por completo. Depois de um curto espaço de tempo, Dodô se enchia do homem que estava ao seu lado e mandava-o embora. Nesse momento de rompimento, ela descobria que todos os homens rejeitados agem da mesma forma: choram, pedem desculpas até mesmo por atos que não cometeram e dão presentes. As rosas que ela recebe todas as semanas são de homens diferentes, mas com o mesmo propósito: reconquistar sua amada.
Se um dia essas flores vão surtir efeito nessa mulher já amada por tantos?
Talvez, se ela, por ventura, se apaixonar pelo entregador da floricultura.

PS.: o resultado do concurso será divulgado no dia 1º de abril. Torçam por mim! =)

Beijinhos.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A nossa Safra...

Por diversas vezes meus posts foram sobre gostos, listas de coisas que me agradam. Porém desta vez optei por utilizar um amor antigo: escrever. Então, esta semana deixo vocês com um texto que escrevi, especialmente para o Safra. Espero que gostem =]

A vida muda, isso é fato. Muitas vezes essa guinada destrói nossos conceitos de certo e errado, de bom e ruim ou mesmo de amor e ódio. Temos que aprender a conviver com novas pessoas, mesmo quando as conhecidas já pareciam boas o bastante para lhe fazer feliz.

Novas dicotomias aparecem para fazer a diferença nos seus dias, você descobre que gosta de coisas que nem sabia que existiam, e que tem habilidade para atividades que sempre te assustaram. Enfim aquele problema complexo ficou fácil e pode ser resolvido rapidamente, mesmo porque você não tem tempo a perder.

Seus amigos se mudaram para estudar e trabalhar, você raramente os vê. Porém é comum falar com eles, afinal a Internet é a reinvenção da roda. Acabou de mudar de cidade, entrou na faculdade e conheceu mais um monte de gente que, aos poucos, habitou seu coração e passou a ser parte essencial de sua vida.

A transição de criança/adolescente para adulto pareceu rápida demais e quem não via a hora de completar 18 anos, hoje morre de medo de chegar aos 19. Tem orgulho por dirigir e ser responsável por suas contas, ao mesmo tempo não tem certeza se está fazendo tudo corretamente e sente arrepios só de pensar que pode ter escolhido o curso errado.

Adora ler, ama música e passa certo tempo de sua vida assistindo a filmes e seriados. Ou talvez nem tenha mais tempo para isso: suas leituras tenham hora para começar e terminar, a playlist tenha exatamente o tempo que você leva para se arrumar antes de sair e os filmes a que assiste sejam os exibidos na TV aos sábados e domingos.

Com todas essas mudanças você acaba se sentindo velho, ao ver que a ‘Geração Coca-Cola’ hoje em dia é outra, porque você já saiu do colégio e se preocupa com coisas diferentes daquelas que estão nas rodas de conversa. Embora ainda arranje tempo para descontrair seja com uma piada, um sorriso ou mesmo conversando com os amigos sobre as "futilidades" de suas vidas.

Sua vida mudou e isso te fascina e te assusta, porém é tão bom ver que crescemos e evoluímos, que nossa personalidade se forma ao longo do tempo e hoje já temos uma bagagem de conhecimentos muito grande. Agora nós vemos que “crescemos e aparecemos” e que seja mesmo assim, que todos fiquem sabendo do nosso potencial, pois faremos a diferença.

Agora sabemos que todos os pedacinhos que deixamos com todos aqueles que conhecemos floresceram, fizemos tudo certo, o melhor possível. E essas certezas só vieram com o tempo... Nem sempre parece ser bom mudar, não parece que aquele é mesmo o rumo certo, mas o tempo sempre prova que tudo o que foi, ajudou a nos formar e é isso que realmente importa. A vida muda, isso é fato.




Beijosmil, até a próxima ;*

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Um gênero com personalidade!

(...) Assim são as páginas da vida,
como dizia meu filho quando fazia versos,
e acrescentava que as páginas vão
passando umas sobre as outras,
esquecidas apenas lidas.

(Machado de Assis)


Um gênero que situa-se entre o jornalismo e a literatura. Inspiração nos acontecimentos diários. Traz as pessoas comuns como personagens, sem nenhum aprofundamente psicológico. Essas são algumas das características da crônica. Particularmente, minha paixão.

Derivado do latim chronica, a palavra crônica significava "um breve registro de eventos". Hoje, ela é utilizada, principalmente, em jornais, porém, o que a difere do texto jornalístico é que esse se limita a transmitir o acontecimento tal como ele é, e já naquele o fato diário ganha um toque de ficção, fantasia e criticismo.
Em geral, a crônica é escrita em primeira pessoa, para que o leitor sinta o cronista dialogando com ele. Quando o cronista seleciona as palavras que vai usar e desenvolve seu estilo, ele mostra ao leitor sua visão de mundo. Em relação à linguagem, os textos são simples e espontâneos. Para concluir sobre o que é a crônica, posso citar as palavras de Artur da Távola: "É o samba da literatura. É, ao mesmo tempo, a poesia, o ensaio, a crítica, o registro histórico, o factual, o apontamento, a filosofia, o flagrante, o miniconto, o retrato, o testemunho, a opinião, o depoimento, a análise, a interpretação, o humor. Tudo isso ela contém, polivalente direta e simples, como um samba. Profunda como a sinfonia.".

Listei, dentre os vários cronistas brasileiros, os principais - e meus favoritos também. Com exceção do escritor Rubem Braga, todos os outros escrevem, ou escreveram, além de crônicas, contos, ensaios, romances etc. Digo isso porque destaquei as principais obras de cada autor, independente de serem crônicas ou não. Vamos ao que interessa, então:

ARNALDO JABOR

 "As mulheres sofrem mais com o mal do mundo. Carregam o fardo da dor histórica e social, por serem mais sensíveis e mais fracas. Os homens, por serem fálicos, escamoteiam a depressão e a consciência da morte com obsessões bélicas, financeiras ou políticas. As mulheres aguentam firmes a dor incompreendida. O mundo está tão indeterminado que está ficando feminino, como uma mulher perdida: nunca está onde pensa estar. O mundo determinista se fracionou globalmente, como a mulher. Mas não é o mundo delicado, romântico e fértil da mulher; é um mundo feminino comandado por homens boçais. Talvez seja melhor dizer um mundo travesti. O mundo hoje é travesti."

(Trecho da crônica "O mundo de hoje é travesti")

Arnaldo Jabor é um carioca nascido em 1940. É cineasta, crítico e escritor brasileiro. Em 1995 estreou na TV Globo e levou para o Jornal Nacional e para o Bom Dia Brasil, o estilo irônico com que comenta os fatos da sociedade brasileira. Jabor faz parte daquilo que se chama crônica jornalística. Ele retrata o dia a dia dos brasileiros com toques apimentados, expondo a verdadeira situação em que todos se encontram e criticando aqueles que merecem.

Principais obras:

Amor é prosa, sexo é poesia (2004)
Pornopolítica (2006)
Eu sei que vou te amar (2007)


MARTHA MEDEIROS



"Que tenhamos a sorte de esbarrar com seres habitados e ao mesmo tempo inofensivos, cujo único mal que possam fazer é nos fascinar e nos manter acordados uma madrugada inteira. Ou a vida inteira, o que é melhor ainda."

(Trecho da crônica "Pessoas habitadas")



A gaúcha Martha Medeiros fez sua carreira na área de Publicidade e Propaganda. A literatura fez com que a autora deixasse de lado esse caminho e começasse a colaborar com crônicas para o jornal Zero Hora, além de escrever para a revista Época. Apesar de escrever no jornal, seus textos retratam, principalmente, as pessoas e suas personalidades.

Principais obras:

Strip-Tease (1985)
Persona non grata (1991)
Coisas da vida (1995)
Trem-Bala (1999)
Divã (2002) - o livro deu origem a uma peça e a um filme, ambos estrelados pela atriz Lília Cabral.
Esquisita como eu (2004) - Infantil
Doidas e santas (2008)
Fora de mim (2010)


LUIS FERNANDO VERÍSSIMO



"Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto a um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda."

(Trecho da crônica "O gigolô das palavras")

É do Rio Grande do Sul  que vem mais um cronista: Luis Fernando Veríssimo. Filho do grande escritor Érico Veríssimo, o criador do Analista de Bagé escreve crônicas humorísticas. Eu o considero o melhor nessa área. Quem nunca leu seus textos, está perdendo histórias riquíssimas e muito bem-humoradas. Veríssimo escreve sobre a sociedade e suas faces, mas sempre criticando-a com um pouco de humor.

Principais obras:

Ed Mort e Outras histórias (1979)
Sexo na cabeça (1980)
O analista de Bagé (1981)
Gigolô das palvras (1982)
A mulher do Silva (1984)
A mãe do Freud (1985)
Comédias da vida privada (1994)
Novas comédias da vida privada (1996)
Comédias para se ler na escola (2000)
As mentiras que os homens contam (2000)


MACHADO DE ASSIS



"Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Quer calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjenturas acerca do sol e da lua, outra sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a a crônica."

(Trecho da crônica "O nascimento da crônica")


Nosso querido Machadinho (1839-1908) é o representante-mor da crônica brasileira. No fragmento acima, ele escreveu sobre a crônica, gênero que lhe rendeu brilhantes colunas nos jornais em que trabalhou. Machado de Assis publicou mais de 600 crônicas, que podem ser encontradas em livros em que outros autores reuniram as principais e publicaram após a morte do autor paulista.

Principais obras:

Ressurreição (1872)
A mão e a luva (1872)
Helena (1876)
Mémórias póstumas de Brás Cubas (1881)
Quincas Borba (1881)
Dom Casmurro (1889)
Esaú e Jacó (1904)
Memorial de Aires (1908)
O alienista
Uns braços


RUBEM BRAGA


"Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com  um bem-querer tão certo e limpo, tão fundos e bom que parece que estou te embalando dentro de mim."

(Trecho da crônica "O Desaparecido")



Rubem Braga, o maior cronista brasileiro. Adoro suas crônicas que retratam o simples e que retratam os sentimentos, como a paixão e a saudade. Ou aquelas em que fala sobre sua vida em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Braga consegue prender a atenção de qualquer pessoa que o leia pela primeira vez e sempre encanta seus eternos fãs.

Principais obras:

O conde e o passarinho (1936)
O Morro do Isolamento (1944)
Ai de ti, Copacabana (1960)
Crõnicas de guerra - Com a FEB na Itália (1964)
A traição das elegantes (1967)
Crônicas do Espírito Santo (1984)
As boas coisas da vida (1988)
O verão e as mulheres (1990)
200 crônicas escolhidas
Recado de primavera


MAICON TENFEN


"Ninguém conhece o passado do mordomo, por isso ele nos surpreende a cada vez que tira suas luvas de pelica. Capaz de recitar Shakespeare de cabo a rabo e de dar palpites decisivos sobre o mercado de ações, ao menor sinal de perigo abandona seus trejeitos afeminados e se revela um mestre de Kung Fu. Embora seja notório que nunca teve namorada, conhece profundamente os gostos e as fraquezas das mulheres. O patrãozinho ricoa azarado sempre lucra com seus conselhos.
O mordomo é, antes de tudo, um forte."

(Trecho da crônica "A culpa é do mordomo")

Nessa lista não podia faltar, é claro, o escritor Maicon Tenfen. Nascido em Ituporanga (SC), Maicon é professor  de Literatura Brasileira na Universidade Regional de Blumenau - FURB. Seus livros publicados são, em sua maioria, romances e contos, mas ele faz uso da crônica em sua coluna diária no Jornal de Santa Catarina e no Diário Catarinense.O cotidiano, a literatura, a política... Tudo é assunto para uma boa crônica. Esse escritor com certeza deixa sua opinião bem clara em tudo o que escreve. Não tem medo de criticar e usa seus textos inteligentes para fazer todos refletirem.
OBS.: Devo admitir: leio suas crônicas todos os dias em seu blog. Acompanho seu trabalho a muito tempo e adoro sua forma de escrever e expor suas opiniões. Li quase todos os seus livros e recomendo-os a qualquer um. Leiam! Não se arrependerão, tenho certeza.

Principais obras:

Entre a brisa e a madrugada (1996)
Um cadáver na banheira (1997)
O segredo da montanha (1998)
O impostor (1999)
O filho do Feliciano (2000)
Mistérios, mentiras e trovões (2002)
Mania de grandeza e outras crônicas (2005)
A culpa é do mordomo e outras crônicas (2006)
Casa Velha Night Club (2009)
A galeria Wilson (2010)

É bom ao acordar, ou ao longo do dia, ler uma crônica e refletir sobre o que ela fala e até mesmo rir com ela. Por serem textos simples, nos dão sempre uma vontade de "quero mais". Eu gosto muito e queria compartilhar com vocês esse meu gosto literário. Espero que todos possam ler uma boa crônica e começar a apreciar esse gênero tão antigo.

Até a próxima.

Um beijinho em alemão... Kuss.