quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Devia ter arriscado mais, e até errado mais... ♫

Noites de inverno são depressivas. Noites de inverno em centros urbanos são ainda mais. Raquel estava naqueles dias em que tudo dá errado. Levantou da cama e calçou os chinelos de pano trocados. Todo mundo sabe que isso é azar na certa. O leite cresceu e esparramou por todo o fogão, a torrada queimou, o jornaleiro não trouxe seu jornal, a luz do banheiro queimou. Seu carro não ligou, teve que pegar um metrô lotado, chegou atrasada no trabalho. O telefone não parou de tocar, sua concentração era zero, levou uma bronca do chefe. Os colegas de trabalho saíram para um happy hour e não a convidaram. Querem saber o pior de tudo? Era noite de sexta-feira e ela estava só. Há algo mais depressivo do que uma noite de inverno num centro urbano e você estar só? 
O sino da catedral marcava 18h. Raquel resolveu vagar pela cidade. Comprou um café no McDonald's mais próximo e caminhou, sem destino, pelas ruas da cidade. Já disse que era uma noite de sexta e que era inverno? Pois era, e ainda por cima nevava. Flocos finos e branquinhos. As luzes da cidade estavam acesas e mostravam as faces dos desconhecidos que também vagavam pela cidade, pois também eram pessoas que, numa noite de inverno, de uma sexta-feira, estavam sós. 
Raquel pensou na última vez que havia sentido calor humano. Um arrepio percorreu seu corpo e ela percebeu que estava sozinha havia muito tempo. O que ela não entendia era o porquê. Eu não disse, tenho certeza, de que ela era uma mulher no auge dos seus 28 anos, com seus cabelos castanhos com ondulações nas pontas, pele branquinha e olhos verdes do verde mais bonito que há nesse mundo. Inteligente, responsável, com princípios e valores familiares. Sendo assim, qual era seu problema, afinal? Pessoas assim geralmente são as mais requisitadas para festas, reuniões particulares, encontros e tudo o mais que uma noite de sexta-feira em um centro urbano pode proporcionar. Raquel era apática. Sim, isso mesmo. Esse era o seu problema: era uma mosca-morta! Tinha todas as suas virtudes e dotes, porém não era vista nem revista por ninguém, porque nunca se manifestava para nada. No escritório, ficava em sua mesa todo o tempo, não participava das conversinhas de cafeteira e muito menos dava risadinhas maliciosas para o chefe. Não era notada, não era lembrada.
Enquanto caminhava só nessa noite de inverno sob as luzes da cidade, ela tomou uma atitude: precisava mudar sua vida! Ela queria que os pedreiros da obra ao lado da sua casa a chamassem de gostosa, que o chefe a olhasse com malícia, que fosse convidada para todas as festas e viagens, que fosse dada a ela a oportunidade de ter todas as experiências possíveis, queria ousar. De repente não mais que de repente grudou um papel no seu pé. No primeiro instante ela xingou, pensando "mais isso agora?", mas como o papel não desgrudava de maneira alguma, ela o pegou na mão e o leu. Lá, dizia o seguinte:


Raquel percebeu, nesse instante, que essa seria sua última noite de inverno, em um centro urbano, sozinha. Ela queria mudar e não sabia como. Um pedaço de papel, entretanto, abriu sua mente e transformou a passiva moça de escritório. Raquel viu que a vida estava passando sob seus olhos e que as oportunidades estavam ali, na sua frente e ela só tinha que viver. Lembrou-se de uma frase que leu certa vez, mas que não tinha feito muito sentido para ela naquele momento, mas agora...: "A maioria das pessoas está plantando um trevo de quatro folhas enquanto a sorte está batendo na porta delas". Ela tinha todas as cartas na mão, só precisava se libertar de suas amarras e ser feliz!
Era uma noite de inverno, em um centro urbano. Mas foi a última para Raquel. Depois daquele dia, todos os dias eram de verão e o centro urbano era uma pista de dança com suas luzes sempre acesas, iluminando sua passagem!


PS.: eu queria, de alguma forma, explorar essa imagem que recebi esse dias de uma amiga. Ali, creio eu, está a chave para uma vida tranquila e feliz. Que sejamos, sim, responsáveis e que tenhamos em mente sempre nossos valores e princípios, mas que não sejamos escravos disso, para que no último dia de nossa vida nos arrependamos da vida que não vivemos! Precisamos ousar, precisamos viver, do meu, do seu, de qualquer jeito!


Espero que tenham gostado do continho!
Um abraço forte! =)

2 comentários:

  1. Ameei, minha bonita!

    Eu acho que não precisamos deixar de fazer as coisas que gostamos para ser responsáveis. A responsabilidade é algo tão grande que nos dá a oportunidade de viver plenamente. Amei o continho, minha linda *-*

    Parabéns, <3

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  2. Amiga, você deve escrever um livro de contos e tenho dito!

    E concordo com a Thatá: devemos viver plenamente, ao mesmo tempo em que podemos ser responsáveis.

    Belas palavras, parabéns! <3

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